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Os 100 Melhores Discos Nacionais dos Anos 2000 [10-01]

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Caetano Veloso

#10. Caetano Veloso
Cê (2006, Universal)

Misto de dor, amargura e reflexão, não apenas marca a transformação instrumental de Caetano Veloso – agora acompanhado pela renovada Banda Cê -, como arrasta o veterano músico baiano para um cenário lírico totalmente transformado. Ainda que Caê já tivesse percorrido as vias do pós-relacionamento em outros registros lançados ao longo da década de 1970, o termino do casamento com Paula Lavigne, em 2004, trouxe feriadas profundas ao artista e consequentemente aos versos exaltados por ele. “Eu já chorei muito por você/ Também já fiz você chorar”, desaba o compositor em Outro, faixa de abertura do disco e trama lírica que conduz todo o clima do restante da obra. Sujo pela maneira como as guitarras são costuradas no decorrer do trabalho, faixa após faixa o músico mergulha em uma infinidade de contextos essencialmente particulares, discutindo sexo e velhice nas palavras da forte Homem, ou simplesmente destilando cada poça de rancor no decorrer da faixa Odeio. Um princípio amargurado de renovação que decidiria boa parte dos trabalhos seguintes do cantor.

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Mombojó

#09. Mombojó
Nadadenovo (2004, Independente)

Dor e alegria se confundem no interior de Nadadenovo. Registro de estreia da banda recifense Mombojó, o agridoce álbum traz na declarada confissão dos sentimentos, o ponto de equilíbrio para a apresentação estética do grupo. Sustentado pelos vocais tímidos de Filipe S (um herdeiro de Fred Zero Quatro), o registro, embora tratado como próximo de outros trabalhos da época, talvez seja o primeiro grande exemplar da cena alternativa a seguir um caminho oposto ao que os cariocas do Los Hermanos pareciam inclinados naquele momento. O cruzamento entre o orgânico e o eletrônico fez nascer faixas como Estático, Deixe-se Acreditar e Nem Parece, músicas que trouxeram na roupagem eletrônica e percursos levemente experimentais um novo sentido ao samba. Lançado na íntegra para download no site do grupo, e posteriormente distribuído em formato físico pela extinta revista OutraCoisa, Nadadenovo, na contramão do próprio título, é um dos primeiros exemplares da cena independente a buscar por novos métodos de distribuição. Dez anos depois de Samba Esquema Noise e Da Lama ao Caos terem apresentado o Manguebeat, a estreia do Momobojó reforçava a identidade da cena pernambucana.

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Racionais MC's

#08. Racionais MC’s
Nada Como Um Dia Após o Outro (2002, Cosa Nostra)

Cinco anos depois que a crueza dos versos alimentaram o obscuro Sobrevivendo no Inferno (1997), obra-prima dos Racionais MC’s, para o quinto trabalho de estúdio o coletivo paulistano resolveu mais uma vez passear pelo território urbano das rimas. Longe das grandes da prisão, mas ainda assim cercado pelos muros da sociedade, Nada como um Dia após o Outro Dia reforça a dificuldade de qualquer cidadão das periferias em sobreviver no inferno particular que é São Paulo. Duplo, o registro de 21 faixas utiliza dos dramas cotidianos de cada integrante – muitas vezes reconfigurados em personagens – como a principal ferramenta de execução da obra. A divisão – Chora Agora e Ri Depois – de cada disco, está longe de ser encarada em um propósito de isolamento conceitual, pelo contrário, utiliza de cada música como um princípio de reforço para as crônicas musicadas que solucionam a totalidade do álbum. Sustentado pelos pilares de Vida Loka (parte I e II), além das densas Jesus Chorou e Negro Drama, o álbum usa do lirismo como a formação de um universo particular, tratamento que em nenhum instante sufoca a veracidade amarga dos versos.

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Curumin

#07. Curumin
Japan Pop Show (2005, YB)

Soul, Funk, Samba, Jazz, Eletrônica, Hip-Hop, Bossa Nova e Pop. No cercado instrumental de Japan Pop Show não existem barreiras ou prováveis bloqueios aos diferentes gêneros. Tendo em cada faixa um campo de possibilidades sempre abertas, o cantor e compositor paulistano atravessa com autonomia um cercado rítmico de pura versatilidade. Se a experimentação ocasional da faixa de abertura é um aviso sobre as constantes interferências da obra, a partir de Compacto, segunda faixa do disco, o instrumentista quebra a complexidade de forma a anunciar um disco leve, mas nem por isso comum. Com um olhar atento para o groove da década de 1970, mas sem jamais cortar a relação com o presente, Luciano Nakata dribla a morosidade da MPB de forma a produzir um trabalho essencialmente acessível e dinâmico. Seja no rock quase carnavalesco de Magrela Fever, ou no pancadão de Caixa Preta – parceria com BNegão -, Curumin trilha um registro tão próximo do ouvinte, quando desafiador em relação aos gêneros que carrega. Uma prova simples, porém necessária para entender que um disco não precisa de isolamento e excessiva complexidade para fazer sentido.

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Lucas Santtana

#06. Lucas Santtana
Sem Nostalgia (2009, Dignóis/YB)

Apenas voz e violão. Contrariando a lógica de grande parte dos trabalhos do gênero, Lucas Santtana fez de Sem Nostlagia uma corrupção inteligente dos clichês que abastecem a MPB. Das batidas sampleadas aos arranjos sobrepostos, cada textura musical instalada no quinto álbum do músico baiano se projeta a partir de um único violão e suas possibilidades acústicas ou percussivas. Impulsionado pela eletrônica torta que abre o disco, com Super violão mashup, o disco passa pela Bossa Nova (Night time in the backyard), brinca com a leveza do samba (Amor em Jacumã), até se acomodar no som de cigarras que ocupam a ambiental Natureza nº 1 em Mi Maior. Curioso, o trabalho parece mudar de direção a cada esquina, o que de forma alguma rompe com a delicadeza atmosférica que flutua pelo totalidade das canções. Intimista, mas nunca isolado, Santtana interpreta o amor de forma bem-humorada, com Cira Regina e Nana, desaba em melancolias com Hold me in, até esbarrar no pop de O violão de Mario Bros. Um universo inteiro de pequenas colisões – sentimentais, cotidianas ou abstratas – que jamais tendem ao exagero, apenas manifestam de forma coesa cada acorde emanado sob atenta simplicidade.

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Superguidis

#05. Superguidis
Superguidis (2006, Senhor F)

Se fosse preciso representar o rock alternativo dos anos 2000 em um único disco, o debut da gaúcha Superguidis provavelmente seria o escolhido. Pinçando referências que atravessam a música dos anos 1990, o álbum substitui os tradicionais versos em inglês – tão comuns em obras do gênero -, por acessíveis tramas em bom português. Aos comandos vocais de Andrio Maquenzi, cada canção do disco se perde entre sonhos de pós-adolescentes, versos de cunho nonsense e um curioso estágio de descompromisso que garante movimento ao álbum. Seja falando de amor (O Banana), ou berrando alto (Malevolosidade), a jovialidade instalada nas faixas brinca com a essência de Sonic Youth e Pavement sem necessariamente perder a própria identidade. Uma avalanche de ruídos alinhados na mesma frequência que a música pop, exercício que faz explodir músicas pegajosas como O Véio Máximo e O Manual de Instruções do princípio ao fim do álbum. Jovem, cru e o honesto, Superguidis é um álbum que curiosamente usa da própria efemeridade das canções como um mecanismo de durabilidade.

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Céu

#04. Céu
Vagarosa (2009, Universal)

Suave e afundado em nuvens carregadas de referências regueiras, Vagarosa não é apenas o melhor retrato da nova safra de cantoras da “MPB”, como solidifica um denso apanhado de emanações profundamente letárgicas. Enquanto a voz hipnótica de Céu passeia com candura pelo álbum, batidas amenas, amontoados de guitarras levemente distorcidas e harmonias brandas de teclados vão se entrelaçando, produzindo um verdadeiro ambiente conceitual mutável. Em meio a uma nuvem de fumaça, a paulistana e os parceiros que a acompanham fazem nascer clássicos recentes da música brasileira. São achados como Espaçonave (com participação de Fernando Catatau), Cangote, ou mesmo a experimental Nascente, que abandona o tom pacato e tomado pelo Dub para se transformar em um jazz maroto, quase flutuante. Sobram ainda tropeços acolhedores pelo Reggae, a densidade do R&B e um doce romantismo brega, típico dos anos 1970. Da voz arrastada da cantora ao composto de melodias esvoaçantes, todos os espaços do registro contam com um doce aroma canábico, como se o disco todo flutuasse em uma vistosa marofa recém soprada.

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Sabotage

#03. Sabotage
Rap é Compromisso! (2000, Cosa Nostra)

Discípulo dos ensinamentos deixados pelos Racionais MC’s, Mauro Mateus dos Santos, ou simplesmente Sabotage, fez de sua curta passagem pela Terra o princípio para uma das obras mais densas já expostas pelo gênero. Dono de um único registro em estúdio – Rap é Compromisso!, lançado em 2000 –, o paulistano soube como poucos a forma como retratar o universo ao seu redor de forma honesta e essencialmente realista. Transformando cada composições em uma visão única das pessoas, da cidade e da crueza melancólica das periferias, o rapper fez do álbum uma imensa crônica musicada. Dos versos que prestam uma homenagem à região do Brooklyn, onde cresceu e morreu – Um Bom Lugar, No Brooklin -, aos problemas com drogas e envolvimento com o tráfico – Cocaína, Na Zona Sul -, o artista fez de cada criação uma coleção de versos memoráveis. Faixas que mesmo observadas anos após o lançamento do disco, ecoam uma estranha e sempre constante aproximação com o presente. Morto em janeiro de 2003, Sabotage deixou para trás um punhado de canções registradas em estúdio, três filhos e a obra mais importante do Rap nacional nos anos 2000.

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uhuuu

#02. Cidadão Instigado
Uhuuu! (2009, Independente)

Um delírio sob controle. Contrariando a própria esquizofrenia da banda, Uhuuu!, terceiro registro em estúdio da cearense Cidadão Instigado, é um passeio pela psicodelia sem esquecer do pop. Obra mais coesa e ainda assim aventureira já assinada por Fernando Catatau e seus parceiros de banda, o álbum segue de onde o grupo parou em 2005, com E O Método Túfo De Experiência, fazendo da brega O Tempo um sentido de direção para as canções. Com os dois pés cravados na década de 1970 e a cabeça nas nuvens, o disco se esparrama em inventos psicodélicos (O cabeção), colagens excêntricas (Deus é uma viagem) e um doce romantismo melancólico (Dói). Sem medo de arriscar, a banda exagera nos sintetizadores (Contando Estrelas) e brinca com o passado em um sentido de comunicação com o presente (Como as luzes), mecanismo que faz do álbum um típico registro pop, porém, interpretado às avessas. Sustentado pela evidente aproximação entre os integrantes, Uhuuu! vai além de um mero grito de exclamação, trata-se de uma passagem direta para um universo paralelo em que Fagner e Pink Floyd partilham dos mesmos princípios líricos e lisérgicos.

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Ventura

#01. Los Hermanos
Ventura (2003, Sony BMG)

Com o lançamento de O Bloco do Eu Sozinho (2001), os cariocas do Los Hermanos haviam provado ser capaz de algo maior do que um único hit – representado pela ascensão meteórica da música Anna Julia. Todavia, a busca por uma sonoridade menos comercial e naturalmente hermética no segundo disco acabou por distanciar a banda carioca do grande público, feito que parece solucionado na arquitetura bem resolvida de Ventura. Valorizando o uso de metais em acerto com o samba, guitarras abastecidas pelo rock nova-iorquino e versos de grandeza imposta, o álbum revela o verdadeiro ponto de maturidade do grupo.

Enquanto Marcelo Camelo aposta no lado sentimental da obra, visível na sensibilidade feminina de A Outra e na trama que costura o lirismo de Conversa De Botas Batidas, o parceiro Rodrigo Amarante segue por um caminho tão particular quanto o do companheiro de banda. São conceitos existenciais (O Velho E O Moço), crônicas amargas do cotidiano (Do Sétimo Andar) e um teor poético de evidente esforço urbano (Um Par). Aclamado de forma quase unânime pela crítica, e também responsável pela legião de fãs que cresceram em torno da banda, o álbum é ao mesmo tempo um ápice e o princípio das divisões conceituais que encerrariam a produção do grupo em poucos anos. Base para toda uma geração de artistas que nasceriam logo em sequência, Ventura é o ato final de uma série de inventos que começaram nos anos 1990, mas que perduram com autenticidade ainda hoje.

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